Autor: Devaniei Mota

A PALMEIRA DO MEU LUGAR

    Nasci e vivo a caminhar por entre à caatinga, bioma de vegetação única no mundo. Resido no sertão da Bahia no município de Várzea do Poço. Aqui a natureza imprimiu na terra o DNA dos licurizeirais, a palmeira do meu lugar. O pé de licuri é a planta nativa de grande porte de maior presença na composição de nossa paisagem natural, e poderia apropriadamente representar em cartão postal nossa identidade vegetal. O Varzeano morador da zona rural, vê pé de licuri para onde quer que olhe, e o balanço das suas palhas ao sabor do vento, embala seu labor cotidiano, enquanto suave abana seus dias quentes.
    O licurizeiro batizado pela ciência com o nome de Syagrus Coronata é uma palmeira que pode alcançar até 12 metros de altura, sendo essas raras e bem velhas. O mais comum é encontrá-lo em altura que vai de 5 a 8 metros. Suas folhas em forma de palha parecida com a do coqueiro, desenvolvem-se no geral em tamanhos que pode atingir a 3 metros de comprimento, e seu caule de constituição muito fibrosa, rugoso e resistente, cresce sempre reto, atingindo a espessura de 30cm de diâmetro. 
    Como planta nativa e endêmica da região de caatinga, o licurizeiro é uma espécie que marca sua presença em alguns estados da região nordeste do Brasil, mas podemos considerar que é no estado da Bahia que a palmeira brota com vigor e abundância. Assim, podemos considerar que os municípios pátria dos licurizeiros são: Capim Grosso, Serrolândia, Quixabeira, São José do Jacuípe, Várzea da Roça, Jacobina, Várzea do Poço, Mairí, Mundo Novo, Senhor do Bonfim, Campo Formoso e Caldeirão Grande.
    O licuri, como é denominado o fruto do licurizeiro, é uma espécie de minúsculo coquinho comestível que nasce em cachos, podendo em uma única palmeira, ser encontrado ao mesmo tempo, até cinco cachos em fases diferentes de desenvolvimento. Em um único cacho já foram contados 1.335 frutos,
sendo possível cachos com maior quantidade. Com esses números podemos concluir que o licurizeiro é uma palmeira de fruto comestível bastante produtiva.
   A colheita do licuri é feita cortando seus cachos maduros no pé transportando-os para o terreiro da casa de roça, onde se vai esperar que sequem, expostos ao sol. A outra maneira seria catar no chão, os pequenos coquinhos caídos do cacho maduro, ou já secos embaixo da palmeira. Depois de seco o licuri é quebrado a mão com uso de pedra, e do seu interior é extraído a sua amêndoa, que tanto pode ser consumida in natura quanto cozida na sua dura casca, sendo esses os dois primeiros modos alimentícios de consumo humano.
    Na nossa culinária usamos o leite de licuri no preparo do bacalhau. Se na tradição religiosa cristã devemos comer peixe na páscoa, o nosso bacalhau e arroz sempre foi ao leite de licuri, iguaria no tempero no bacalhau que igual não se encontra nem na capital. Em tempos de avô e pai, o leite de licuri era extraído triturando sua amêndoa no pilão, e isso se conseguia com muita batida de mão de pilão no pilão. Hoje comodamente usamos o liquidificador.
    Em tempos idos, vivia o homem da caatinga imerso em seu meio ambiente natural, ocupando seu nicho e habitat, era ele apenas mais um fio na grande teia de interdependência do mundo natural que lhe cercava. Com menos ambição do que hoje e menos coisas a desejar possuir, vivia nossos avós e pais uma relação de harmonia e parceria simbiótica com os licurizerais que habitavam suas terras. Não havia matá-los a machado e fogo preferindo o capim de gado, a coexistência dos dois era possível. O pé de licuri em gratidão oferecia o deleite do seu leite no nosso peixe e arroz da páscoa, e também de suas amêndoas fazíamos doces caseiros diversos.
    O licuri maduro ainda no cacho, ou caído no pasto sempre foi e ainda é petisco de gado, que depois de um catado de boca, deita-se à sombra da palmeira ruminando em deleite degustativo o seu dendê. Em épocas de seca e escassez de alimento para o gado, as palhas dos licurizerais sempre foi e ainda é cortada e servida de ração para o rebanho bovino. O licuri quebrado, catado e vendido no armazém era dinheiro certo garantido pela indústria que extraía o óleo de sua amêndoa para uso na fabricação de sabão caseiro, considerando estar nessa forma de aproveitamento e exploração extrativista a primazia do seu valor econômico.
    A contribuição da palmeira do sertão na sua relação com o homem do campo e da cidade, não só se dava pelo valor alimentício do seu fruto para o homem, de sua palha para o gado, e do óleo do seu fruto usado na indústria de sabão. A contribuição da palmeira acontecia também, pela utilidade de suas palhas no labor cotidiano das famílias rurais.
    Com palhas trançadas se confeccionava, chapéu, esteira e bocapiu, com palha se fazia vassoura para varrer o terreiro e a casa de roça, com palha se fazia meio teto no chiqueiro de porco para ele descansar na sombra, com as palhas se forrava o chão no abate do porco, com as palhas secas em fogo se sapecava o pelo do porco. Também com as palhas se enfeitava praças e ruas para as noites juninas, de palha se construía as barracas para a feira chique, com palha meu pai amarrava o feixe de lenha. E eu menino no meio disso tudo, transformava a palha em mula braba a ser amansada.  

Publicação da parte final deste artigo dia 29-03-2025 (sábado).

A PEDRA NA BEIRADA DO RIO

     Volto a pedra na beirada do rio, ela é o meu divã, e a natureza o terapeuta. Chego sozinho e nela me sento. Como é bom estar aqui! No alto da pedra me acomodo contemplando a paisagem natural. Aqui nada foi construído pelo pensamento e mão do homem, e em tudo que observo uma sabedoria superior se torna evidente. Chego turbulento, agitado pelos mesmos problemas pelos quais todos nós sofremos como indivíduos da sociedade dita moderna. Mas, aqui sentado na pedra da beirada do rio, logo a terapia começa a operar e serenamente calmo me reestabeleço.

    O rio nesse recanto se faz remanso de águas engolfadas que parecem não correr. Nas duas margens observo flores de plantas aquáticas brancas e amarelas, belamente a flutuar sobre as águas. Elas nascem submersas no leito lodoso do rio, e crescendo rompem a superfície do espelho d’água ainda em botão, para finalmente desabrocharem em flor de pureza imaculada. São elas conhecidas como baronesas e nenúfares, responsáveis pela jardinagem das águas do rio. As baronesas com suas raízes flutuantes habitam o meio mais profundo, enquanto os nenúfares, sem disputa de espaço, tomam seu lugar nas margens de águas mais rasas. 

    A pedra começa em terra firme, submergindo das entranhas escuras do subsolo, e com dureza e peso, força as águas do rio a lhe dá espaço.  Metade do monólito repousa em terra firme, e a outra metade dentro d’água, ficando seu topo dois metros acima da superfície. No entorno desse sagrado recanto de natureza selvagem, o solo em declive se faz base de sustentação para a vegetação ciliar típica de caatinga, e como parte da flora local, o juazeiro, nascido na ribanceira do rio, lança teto de sombra sobre a pedra, tornando o local agradável de se estar.

    Me ponho em pé no alto da pedra, e a uso como mirante para clicar algumas fotos da paisagem. No silêncio da natureza, atento a tudo, respiro profundo e contemplo de onde o rio vem, inverto meu olhar, e divagando imagino para onde o rio vai. Volto a mim sentar na pedra. Restabelecido e em paz, compreendendo que a vida em si é boa, e em particular, agora na minha vida tudo estar em seu lugar.

     Estranho momento se torna presente: uma entidade invisível se manifesta envolvendo todo o ambiente natural, aparecendo e desaparecendo em momentos alternados. Na sua presença a vegetação no meu entorno se agita, as galhas das árvores balançam e as folhas tremulam. A areia na superfície da pedra é varrida, e também farfalham as folhas seca que forram o solo da caatinga. A entidade invisível dialoga com o visível.

     Na pedra permaneço sentado, e quieto por dentro contemplo a eternidade do momento. Sinto leve brisa na face. O vento, a entidade invisível, não me apresenta rosto nem corpo. Não é palpável, não pode ser medido, não tem forma, textura nem cor, porque não há materialidade visível nele. Porém, é impossível negar sua existência. Dizem em outras terras, que o vento, quando zangado, rindo se torna tornado, acoitando pelos ares elementos de realidade concreta. Ele, assim como Deus, é sobrenatural, ele, assim como deus, mesmo não sendo objeto de culto, atua no mundo. 

    Sentado na pedra insisto quieto e finco raízes na dureza do monólito, já meditante feito monge monástico. Dentro de mim ruptura acontecem, entre o Eu da cidade e o Eu sentado na pedra. Aqui eu vivo, lá sobrevivo. Despersonalizo-me e esqueço quem sou, sem máscaras me observo. Vejo as árvores e toda flora que me circunda, sinto a pedra e ouço canto de passarinhos. No rio aves aquáticas passeiam por cima das baronesas como se fosse em terra firme, e bicando larvas de insetos entoam canto de colheita. Observo o lagarto de lajedo, esguio e arisco, curioso e temeroso com a minha presença. Assumo a culpa pelo seu medo e tento amizade.

      Agora, já todo envolvido e dissolvido na natureza, sentado em pensamento sobre a pedra na beirada do rio, saboreio na pele o sol morno da manhã de setembro. Me torno imensamente amplo e tudo cabe dentro de mim: o rio, a pedra, os pássaros e as árvores. Sou a flor de nenúfar que flutuando dança sobre as águas, sou o lagarto e o acoite do vento. Rastreando as pegadas de Francisco unifico tudo dentro de mim, e entoando o cântico universal das criaturas me torno uno com tudo ao meu redor, porque na realidade não há separação entre o homem e a natureza, ambos em essência são uma coisa só, uma mesma realidade moldada em formas diversas. Agora tudo é Um.

    De toda fauna e flora, água, pedra e vento que acolhi dentro de mim, só não mais há lugar para grilos, porque esses foram resolvidos. Toda agonia de antes afundei nas águas engolfadas do rio. Não precisamos de psicanálise nem remédio tarja preta quando grilados ficarmos. A natureza é psicoterápica e não cobra ônus, é só ir ao seu encontro. Mas é preciso que você se envolva, soltando-se livre em completa entrega ao momento presente e contemplativo. 

   Quando for ao encontro da natureza em caminhada, acima de qualquer problema que esteja vivendo, reverencie a potência de vida que habita você, e em extensão, desenvolva sentimento de amor, unidade e irmandade para com toda a diversidade de animais e plantas presentes no seu entorno. Quando em fuga da cidade, consumido pela rotina de deveres e afazeres for a pedra na beirada do rio, comece deixando a cidade e seus ruídos na cidade, não os leve consigo. Agora caminhante e mais confiante deixarei o rio e a pedra, leve como pluma voltarei para casa, ou seria minha casa onde já estou. As demandas da vida em sociedade nos causa mal-estar e nos afasta daquilo que realmente somos.

Em homenagem a Daizy Mota, minha irmã, que em seus momentos de grilos, vem praticando a calma andando pela natureza, e junto comigo esteve sentada na pedra da beirada do rio.

Arte na natureza, ou a natureza em detalhes, segundo os líquens

Para o explorador dos encantos da natureza, os líquens não chamam a atenção como as flores de orquídeas e das bromélias. Porém, desenvolvem-se em estampas coloridas e texturizadas, ganhando formas intrigantes que, dependendo do olhar e do senso estético do fotógrafo, é capaz de capturá-los como expressões da arte abstrata.

Às vezes desenham também o que parece ser mapas geográficos de continentes, países e estados. Os líquens são seres de natureza dupla. Um dia na infância da natureza em formação, nas noites frias dos milênios que moldaram a história evolutiva das plantas, espécies de algas verdes e fungos se entendem num acordo de benefício mútuo para ambos os reinos.

A troca de favores nessa relação ecológica e harmônica foi de uma simbiose tão perfeita que daí resultou-se uma espécie inédita na diversidade de formas que habitam o planeta.

Mas se serve de consolo, guardaremos nas nuvens nossos arquivos de fotografia do que foi um dia a natureza, seu valor para nossas vidas e a beleza para que as próximas gerações tomem consciência do que se perdeu.

Sim, acabaremos com o mundo natural e real, mas teremos tecnologia para transformá-lo em virtual. Assim, em futuro próximo, andaremos pelos bosques e nadaremos em rios de águas límpidas acessando virtualmente, através de fotografias, o que foi o mundo um dia esses ecossistemas já extintos.

Voltando depois a um dos lugares em que eu havia fotografado esses líquens, encontrei o ambiente quase totalmente destruído, transformado em lenha para ser vendida às olarias, carvoarias e padarias. O sentimento de perda foi imensamente grande e indescritível.

As fotos foram tiradas no município de Várzea do Poço, Bahia, no período de 2011 a 2016, e as que foram postadas no blog são uma pequena amostra do arquivo original.

O QUE SABE A CIÊNCIA DA VIDA DOS LÍQUENS.

  • Os líquens são seres vivos, mas não são animais nem plantas, segundo a sistemática taxonômica da biologia moderna.
  • Os líquens se originaram de associações simbióticas entre fungos e algas.
  • Não apresentam folhas, raízes e caules.
  • São capazes de sobreviver onde poucos ou nenhum ser vivo conseguem.
  • São organismos pioneiros, e podem sobreviver em locais de grande estresse ecológico.
  • Produzem ácidos que degradam rochas e ajudam na formação de solo, tornando-se organismos pioneiros em diversos ambientes.
  • Existem líquens que são substratos para outros líquens.
  • São extremamente sensíveis à poluição, servindo-nos de bioindicadores dela, podendo indicar a má qualidade do ar.
  • Os líquens são seres de reprodução assexuada.

Plantas e Flores Aquáticas nas Lagoas da Caatinga

Na caatinga quando chega as trovoadas, as lagoas rapidamente se transformam num grande lago de águas rasas. Nesse momento uma mágica acontece, comprovando a supremacia da Natureza.

O que antes era uma planície de chão duro, seco e rachado, desolado e desprovido de vida, agora é um grande e belo jardim flutuante. É a fênix renascida das cinzas. Alguém já disse: A água é o sangue da terra.

Irmã ÁGUA

Louvado seja meu senhor, pela irmã água, a qual é muito útil e humilde, criadora e casta

Trecho de “o cântico da fraternidade universal” de Francisco de Assis.

A lagoa depois de cheia, na calmaria de suas águas, entra em gestação. Na receita tem terra e água, sol e tempo. Trinta dias é suficiente para que as suas minúsculas sementes que dormiam no seu solo sulcado em mosaico de rachaduras profundas, possam germinar e se desenvolver em toda sua força verde.

Irmã TERRA

Louvado seja meu senhor, pela irmã terra, que nos alimenta e governa e produz muitos frutos e coloridas flores e ervas.

Trecho de “o  cântico da fraternidade universal” de Francisco de Assis)

Os nenúfares desenvolvem seus caules em forma de tubos cheio de ar, que a partir do solo submerso da lagoa projetam-se para cima, até romperem a superfície, depositando no espelho d’água, suas folhas achatadas em forma de coração, seguida de suas respectivas flores flutuantes.

Milhares e milhares de flores, distintas em quatro espécies e cores formavam canteiros coloridos por toda superfície aquosa da lagoa.

Apreciar o espetáculo de longe é o que fazem alguns, outros nem isso.

Eu porém, fui tomado por uma grande vontade de ver o grandioso espetáculo de perto, e me aventurei entrar na lagoa com máquina fotográfica a tiracolo, Logo estava com água acima do joelho. Era muita beleza a ser fotografada. Tão absorto fiquei  com a quantidade e beleza da florada, que três horas se passaram sem que eu percebesse o  passar do tempo,  registrando tudo que via: flores e folhas que flutuavam na superfície da água.

Vi também, flores murchando, dando origem aos frutos das plantas aquáticas, e sementes a boiarem na superfície da água esperando encontrar o solo quando as águas baixarem,  e no solo seco descambar em rachaduras, e lá adormecerem, aguardando a próxima trovoada, fechando assim um ciclo que se repete a milhares de ano.

Movendo-me devagar em meio a lagoa, com água acima do joelho, cercado de plantas floridas, as vezes eu parava de fotografar para só contemplar.  A mística Franciscana se apossava de mim, eclipsando a consciência cartesiana.  Claramente eu via a unidade fraternal e universal entre todos os seres que compunham aquela paisagem.

Terra e água, ar e sol, fauna e flora; elementos estes que no seu conjunto formava um só organismo de complexidade e beleza infinita. A natureza é um todo solidário e orgânico.

As lagoas da caatinga são ecossistemas belos e ricos em  biodiversidade, berçário e celeiro de vida, ameaçados pelo desmatamento e tempo seco.

Apatia é a palavra certa p descrever o sentimento que a grande maioria das pessoas sente no que diz respeito a toda questão ambiental. Para essas pessoas ecologia e meio ambiente é só um assunto socialmente correto, poético e bonito, mas não tem nada a ver com a vida delas, portanto não se movem em nenhuma atitude, é como se toda degradação ambiental estivessem acontecendo em outro planeta, e não vai lhes atingir.

Flores Silvestres na Primavera da Caatinga

Estou aqui para falar por aquelas que não podem falar por si mesmas. As plantas e flores do campo.

São muitas as adversidades que as flores do campo enfrentam para continuar existindo e enfeitando com suas flores multicoloridas as beiradas de estradas, os campos e matas. Além de sua beleza, essas plantas que nascem sem ser plantadas pelo homem, fornecem através de suas flores o néctar que as abelhas usam em sua produção de mel.

Ninguém é por elas, pelo contrário, todos são contra elas. O lavrador as tem como inimiga, e vive em guerra com elas, exterminando-as com golpes de enxada, foice e pulverização por venenos químicos. Cada vez mais elas perdem espaço para a pecuária e agricultura, sem falar na aridez do solo por falta de chuva, natural do Nordeste.

As flores silvestres na sua maioria têm origem em plantas que o lavrador da terra considera mato, e mato é para ele planta sem valor, Não era nem para existir. O mato torna a vida do lavrador mais difícil.

O que os lavradores da terra não entendem, é que o mato (plantas de flores silvestres), são forrageiros e tem uma importância ecológica que extrapola valor monetário, no qual ele só pensa. Na teia da vida o mato em sua diversidade é produtor de comida para milhares de seres.

Na natureza a vida vegetal e animal lutam pela sobrevivência. Lagartas, por exemplo: devoram folhas, e pássaros devoram lagartas, que por sua vez também passam a ser alimento para outros animais. Todos esses seres vivos, animais e vegetais, definidos como produtores e consumidores primários, secundários e  terciários na cadeia alimentar do ecossistema, forma a teia de interdependência ecológica entre todos os seres.

Esse ciclo de interdependência e complexidade imensurável, é que sustenta, mantém e equilibra a trama da vida na terra à milhões de anos. Portanto, todo lavrador, agricultor e pecuarista, no uso de terra, deveria  ser ecologicamente alfabetizado, tomando consciência dos processos de como a natureza funciona na sua completude.

Toda planta denominada mato sem valor, gera uma flor que as abelhas, na coleta de seu pólen elabora o mel. Só esse serviço prestado pelas flores silvestres já valida a sua existência. Na sua maioria, as plantas e flores silvestres são melíferas.

Por definição, as flores silvestres, são flores de plantas/matos do campo. As flores do campo são aquelas que nascem e crescem sem que ninguém tenha plantado, regado e cultivado. Elas vivem por sua própria sorte e conta. Elas existem por comando e cuidado da mãe natureza,  sendo elas próprias parte da natureza.

Segundo meu próprio olhar de botânico e fotógrafo de natureza, as flores silvestres nascem em sua maioria, em plantas/matos de pouca altura e arbustos. As  trepadeiras e de ramas dão um show à parte no que diz respeito a composição de arranjos florais, usando como suporte os arbustos, cerca de arame farpado e até grandes árvores.

A primeira vez

Eu já gostava de andar pela natureza, e tinha um certo interesse científico em saber como os ecossistemas naturais funcionam, também colecionava insetos, e carregava com orgulho, uma lupa universitária, que aumentava o tamanho das coisas em 20 vezes como instrumento de pesquisa pendurada no pescoço nas minhas incursões pela natureza selvagem.

Apreciava a leitura de livros sobre ecologia, zoologia, botânica, entomologia e Charles Darwin. vivia a fantasia de ser um cientista. Quando as máquinas fotográficas analógicas deram lugar as máquinas digitais, eu adquiri uma Kodak compacta simples, e a natureza se tornou ainda mais bela e interessante. Tudo que eu via no reino da natureza merecia um click: insetos, aranhas, cobras, lagartos, cogumelos, flores silvestres, flores dos gravatar, as árvores e paisagens.

Ipê Amarelo

A primeira vez que sair a andar pela natureza com a maquina fotográfica em punho, coincidiu com a data de florada dos ipês amarelo ( conhecido mais como pau d’árco na minha região). no ermo da paisagem predominantemente verde/verdosa, de longe eu avistava o amarelão dos ipês em flor. Com entusiasmo caminhava na sua direção p ver e fotografar de perto o espetáculo de uma árvore de grande porte com toda sua copa desfolhada, e uma carga de flor amarela impressionante/ deslumbrante.

A árvore ciclicamente troca o verde das suas folhas, pelo amarelo de suas flores, e no auge viçoso da florada, botões aos milhares crescem, enquanto outros milhares se abrem em flor, que por sua vez amadurecem e se desprendem da árvore mãe. O espetáculo tem dias contado, em menos de uma semana toda carga de flor do alto de sua copa, cai ao chão, pintando a terra de amarelo.

Depois da festa de flores vem os frutos em forma de compridas vagens, parecidas com feijão de corda, embalando as sementes.

Com os ipês rosa e roxo, que conheci depois, sendo mais raros na minha região, acontece o mesmo processo.

A Natureza e a Fotografia, duas paixões, uma complementando a outra. A partir destas, resolvo compartilhar estas experiências nesta grande rede, por meio deste blog.

Compartilhem, comentem e vamos nos conectarmos.

Devaniei R. Mota